Adriana Adam

A história da designer e empresária Adriana Adam tem início em Bucareste, capital da Romênia, sua cidade natal, de onde emigrou com seus pais para o Brasil ainda criança. Por aqui, a família se instala em São Paulo, mais precisamente no bairro de Higienópolis, no qual, entre idas e vindas, Adriana viveu a maior parte de sua vida.

Formada em desenho industrial pelo Instituto Mackenzie, e pós-graduada pela Fundação Armando Álvares Penteado, no final da década de 1970, Adriana passa a atuar no departamento de desenho industrial da então Móveis Forma. Empresa paulistana pioneira no segmento de design, responsável pela introdução no Brasil do próprio ofício aplicado à produção de móveis e objetos.

Por lá, ela colabora na edição da primeira linha de móveis para ambientes corporativos desenvolvida com tecnologia 100% nacional. Coordena a implantação de unidades da marca em algumas das principais capitais brasileiras e acompanha a chegada ao Brasil da linha I Maestri, da Cassina italiana, que reeditou, em escala industrial, o mobiliário criado pelos grandes mestres do modernismo internacional. Uma experiência definitiva em sua trajetória profissional, que fez nascer na jovem designer o desejo de lançar o mesmo olhar investigativo sobre a produção brasileira nas primeiras cinco décadas do século 20.

Dessa experiência mais do que frutífera, Adriana cria em 1987 a Nucleon 8. A empresa – editora de mobiliário brasileiro e fundada junto à arquiteta Consuelo Cornelsen, o designer Paulo Milani e o empresário Zeco Beraldin – abre suas portas em uma icônica sede, num imóvel projetado por Flávio de Carvalho e localizado na rua Ministro Rocha Azevedo, no bairro dos Jardins, em São Paulo.

Nucleon 8 torna-se um marco definitivo na afirmação do design nacional, responsável pela edição de móveis até então inéditos e desenhados por arquitetos como o próprio Flávio de Carvalho, Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha, Vilanova Artigas, Gregori Warchavchik, Lasar Segall e Jonh Graz. Uma atitude absolutamente arrojada e pioneira, diante de um mercado e público que ainda oscilava entre o estilo “colonial” brasileiro e os importados italianos. Referência na cena do efervescente design paulistano, sob a direção de Adriana, a Nucleon 8, se converte desde cedo em ponto de encontro da vanguarda local. Um lugar que ia muito além de comercializar móveis: difundia de maneira definitiva o trabalho dos jovens talentos brasileiros.

Da promissora safra de profissionais revelados por ela nesta fase, com a participação direta de sua amiga, de toda vida, a jornalista Maria Helena Estrada, fazem parte os internacionais irmãos Fernando e Humberto Campana. Disruptiva, quase indecifrável para os padrões da época, o lançamento de “Desconfortáveis”, a primeira coleção de móveis da dupla, teve lugar em um antigo galpão inativado da rua Mourato Coelho, na Vila Madalena. O segundo endereço da designer na cidade e onde por quase duas décadas funcionou a Arquitetura da Luz, outra de suas empresas de perfil de vanguarda.

Focada em iluminação decorativa e ornamental, a Arquitetura da Luz trouxe para o Brasil tecnologias como o sistema de alimentação de baixa voltagem e a fibra óptica. Atuando em todo país, a designer iluminou de residências a hotéis, de jardins a mostras temáticas. Sempre a partir de um ponto de vista questionador, inovativo, avesso a convenções.

Talvez tenha sido essa postura avant-garde, impressa em todos os aspectos de sua vida, que levou Adriana Adam a conhecer e admirar a obra de Gaetano Pesce. Direta – ou por via de longos “faxs”, os emails da época – a comunicação entre os dois, durante décadas, sempre foi farta, permanente, intensa. Por pouco, não acabou se materializando em uma torre de apartamentos construída em São Paulo. Mas se efetivou em um pequeno conjunto de casas que o arquiteto construiu na Bahia, num projeto não menos criativo que o constante imaginário de ambos.

Foi sob inspiração de Gaetano, inclusive, que nos últimos anos de sua vida, Adriana se dedicou a instalar pisos de resina pelos mais diversos espaços do país. E foi pensando em Adriana, que Gaetano agora convoca jovens designers de todo o Brasil para apresentar seus projetos, para que assim possamos todos reverenciar a sua memória por meio do que Adriana sabia fazer como poucos: revelar talentos ao mundo.

dúvidas